quarta-feira, 24 de junho de 2009

Resumo das três primeiras meditações de Descartes



Descartes para escrever as meditações começa a perceber que todos seus princípios são baseados em falsas opiniões; em opiniões que foram geradas e impostas a partir de consciências facilmente dubitáveis. Para isso ele se esforça para se desfazer destas opiniões para que, através de um rigoroso método analítico, possa realmente estabelecer algo de constante nas ciências.
Esse método rigoroso de analisar a realidade é chamado de ordem das razões. A ordem das razões nada mais é do que a seqüência racional que o pensamento tem como qualidade para poder concretizar algo que antes era uma opinião imposta.
Na primeira meditação podemos ler que Descartes inicia sua argumentação mostrando a possibilidade da duvida mediante qualquer situação, desde a mais duvidosa até a que nos parece mais certa e indubitável, como aquelas que nos são apresentadas pelos sentidos. Ele escreve que é demasiadamente correto afirmar que ele está sentado junto ao fogo, vestido com um chambre; e que seria loucura dizer o contrário, pois é de tamanha certeza que estou aqui que, duvidar disso seria o ato de um louco.
Entretanto, como ele continua sua argumentação, Descartes nos lembra que, quando dormimos e sonhamos, por vezes acreditamos que nossos sonhos são a realidade. Essa crença na realidade do sonho nos é imposta pela fé que temos em nossos sentidos, pois quando sonhamos, assim como quando estamos acordados podemos usar da visão, da audição, etc. e esse uso dos sentidos nos da à impressão que aquilo, sonho ou não, é real.
Com isso podemos entender que independente de qualquer sentimento que temos durante um sonho, o sonho nunca será, nem de longe, a realidade. E assim, a partir do momento que os sentidos se tornam uma ferramenta falha na percepção da realidade, e eles perdem sua credibilidade. E aquilo que seria loucura se duvidar, torna-se razoavelmente duvidoso; e algo que seja minimamente duvidoso deve ser considerado falso, pois se algo falha uma vez, nada me garante que não falhará novamente.
Ainda assim Descartes nos mostra que existem ainda certas coisas que são mais simples e universais. Essas naturezas simples são aquelas que mesmo que estejamos sonhando ou não, serão sempre as mesmas constantes realidades. Essas constantes de naturezas simples são suas quantidades, grandezas, extensões e os lugares em que estão. Descartes nos mostra a certeza destas naturezas simples quando exemplifica que a soma dos números três e dois sempre terá como resultado o numero cinco, e que um quadrado nunca terá nem mais, nem menos, do que quatro lados.
Mas como a primeira meditação é escrita para se desapegar de todas as suas crenças já estabelecidas, e que esse método de desapego através da duvida de tudo o que há é a primeira idéia racional que dará inicio à ordem das razões, Descartes se esquiva destas simples e indubitáveis certezas com uma grande sacada: Deus.
Cogitando a possível duvida até nas coisas mais simples e certas que, independente de estarmos sonhando ou acordados, sempre serão constantes e imutáveis, ele argumenta que para ele há um deus que tudo pode e que por este ele fora criado, e que esse deus pode permitir que ele se engane até com as coisas mais certas e incontestáveis como a soma de dois números. Esse deus, um pouco depois, através de um artifício psicológico, se tornará o gênio maligno. O gênio maligno é um ser todo poderoso que emprega todo seu poder para nos enganar.
Por cogitar a possível existência de um Deus enganador, Descartes conclui dizendo que a partir deste ponto tudo é passível de dúvida.

Descartes, após a primeira meditação, sente-se jogado em profundas águas, como ele mesmo nos diz em sua primeira metáfora na segunda meditação. Essas águas simbolizam as duvidas que ele consegue gerar a partir de seu método; da primeira razão na ordem das razões. Ele assim se sentindo em relação às questões criadas começa a conscientemente usar do ceticismo para suspender temporariamente seu juízo para atingir a segunda razão que seu método analítico lhe da: o cogito.
Julgando como duvidoso e falso tudo o que pode haver, como seu corpo, o céu, a terra, o fogo, o quadrado, etc. ele percebe que ele, Descartes, é. Ele percebe e nisso acredita porque por mais que o Deus enganador possa lhe ludibriar com seu poder, fazendo com que ele acredite que a soma de dois números é simples e incontestável, mesmo não sendo, ele sempre continuará sendo. Enganado ou não, ele sempre é enquanto tem a capacidade de pensar que é.
a partir daí ele conclui que ele é e que ele existe, mas, mesmo assim, nada sabe de si.
Continuando sua rigorosa reflexão, Descartes se aprofunda na exploração do que ele é. Para tal feito ele elimina de inicio a imaginação como ferramenta reflectiva, pois a imaginação, segundo ele, nada mais é do que a contemplação de uma imagem corporal, e tudo o que é corporal fora posto em duvida no primeiro pensamento da ordem das razões.
Mas a imaginação acaba sendo útil quando ele percebe que quando ele imagina, pensa ou duvida, quem está imaginando, pensando e duvidando é ninguém, a não são ser ele mesmo. E por isso é mais firmada, a partir disso, a idéia de que ele é.
Na continuação ele exemplifica, através de um pedaço de cera, a mutabilidade dos corpos e que os sentidos apenas contemplam algo que pode não mais ser o que era¹. Seus sentidos contemplavam uma cera dura, fria, com odor e sabor, e, ao aquecê-la, os próprios sentidos contemplaram a mesma cera, porém com um formato totalmente diferente da primeira. Isso demonstra a fragilidade dos sentidos e que a idéia de cera continua, independente de seu formato. Essa idéia de cera, concebida em seu espírito, que continua independente de seu formato. Essa idéia constante invulnerável as influencias dos sentidos é definida por ele como uma faculdade de concepção que vai além dos sentidos.
Logo após concluir este pensamento Descartes começa a quebrar a norma do senso comum de dizer que vê algo que existe, e começa a utilizar a seguinte expressão: penso que vejo algo que pode existir.
E, concluindo a meditação segunda ele nos apresenta a partir desta reflexão sobre o ver e o pensar que vê que, independente de realmente ver, ou não, ele pode crer que ele, Descartes, vê, ou pensa que vê. E essa é a premissa que fecha seu argumento de que ele é enquanto ser que pensa.

A terceira meditação começa com a investigação acima da existência de algum deus. Esse deus todo poderoso que pode ser enganador e que sem saber se existe, e é enganador, nada de concreto poderá ser concluído, porque qualquer que seja a certeza que encontrarmos, por mais clara e certa que seja, ainda poderá ser obra de um deus que emprega seu poder a nos enganar.
Ele argumenta sobre a origem das idéias que temos, perguntando-se como saber se as idéias que ele tem no espírito correspondem mesmo a uma coisa real fora de seu espírito. Ele nos mostra que quando pensamos que pensamos que vemos algo, ou quando pensamos que sentimos o calor que é emitido pelo fogo, cremos que esta imagem e este sentir nos são criados a partir de um ser externo ao espírito. O fogo como exemplo, está fora de nós e ainda assim sentimos seu calor. Descartes nessa altura da investigação expõe que nos parece que há algo de semelhante no objeto com a idéia, e por isso cremos que essa emissão que é captada pelos sentidos correspondem à realidade do objeto. Mas mesmo com essa semelhança aparentemente clara, há a possibilidade de que o objeto seja algo muito diferente da idéia que temos sobre ele. Ele usa o exemplo do sol para demonstrar a diferença entre um objeto e sua idéia dentro de nosso espírito. A primeira, que o sol, por intermédio dos sentidos, nos parece pequeno. Essa idéia concebemos quando apenas usamos do sentir para analisá-lo A segunda, que o sol, por intermédio da razão, posta na ciência da astronomia, nos mostra que o objeto sol é enorme.
A partir desse raciocínio ele se apercebe que por mais que nos pareça claro e simples, podemos nos enganar com os sentidos até mesmo sem que um deus enganador nos provoque o erro.
Depois disso ele começa a analisar as idéias que ele acredita serem externas e começa a perceber que é possível que todas as idéias que ele pensa serem externas nada mais são do que idéias de seu próprio espírito, e dando seguimento a isso ele nota que dentro de si há a idéia de perfeição, que, para ele, não pode ser criada a partir de um ser tão imperfeito como ele.
Ele acredita que, por essa idéia não ser criada pelo nosso próprio espírito, ela é externa e só pode vir de um ser perfeito: Deus.
Ele continua sua argumentação mostrando a impossibilidade de que a idéia de deus, que é infinito, dentro de outras características, ser criada por um ser finito, e assim ele acredita provar a existência de um deus todo poderoso que tudo criou e que insere nele esta idéia de perfeição. Portanto a idéia de deus é inata, para em Descartes.
A prova da existência de um deus todo poderoso é o terceiro degrau da escada que o método racional e rigoroso de Descartes nos eleva. Fazendo-se a terceira razão na ordem das razões.

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