sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O Teólogo



A teologia tem um olho voltado às fontes da fé (bíblia e tradição) e outro voltado ao contexto em que vive o teólogo (ante retro oculata). Com os olhos de trás se apropria dos documentos bíblicos, históricos, litúrgicos e dogmáticos que compõem o discurso da fé em sua identidade. Com os olhos da frente conscientiza as questões relevantes da vida da comunidade e procura iluminá-las com a luz adquirida pelo olho voltado para trás. Nisto há uma inter-relação dialética, pois os temas do passado iluminam os temas de hoje, vice-e-versa.

No contexto comunitário em que vive, o teólogo se depara com duas questões diferentes: a comunidade possui rica bagagem de conhecimentos bíblicos e doutrinários, úteis para ajudar os fiéis na compreensão da fé e nos problemas que vê; a comunidade ajuda a captar as questões relevantes da realidade histórico-social e a pensá-la à luz do Evangelho e da teologia. Na primeira, o teólogo é um professor (doutor) e na segunda é um intérprete (profeta). A função do teólogo, então, é explicitar a fé da comunidade, aprofundá-la e redizê-la, aplicando de forma codificada à condição atual, mantendo o apaziguamento da fé no passado e incidindo nas questões vitais do presente.

Nesta significação o teólogo corre dois riscos vitais para a fé: prender-se demais aos olhos voltados para trás e gerar uma teologia arcaizante, anacrônica e velhista; ou prender-se demais aos olhos voltados para frente e cair numa teologia modista, cheia de novidades e glamourosa.

Para que isto não aconteça é necessário haver um treino teológico, onde o importante é atualizar continuamente os conhecimentos do passado e do presente, ser aberto às sínteses elaboradas e ter uma atitude de permanente aprendizado humilde, de escuta dos tempos e obediência à verdade.

Tudo o que o teólogo faz deve ser em prol da comunidade, ajudando-a em sua própria capacidade de pensamento. Esta comunhão não pode deixar de existir. O teólogo não pode esquecer e nem abolir a cultura que envolve a comunidade. É preciso assumir os riscos e aceitar os erros através de uma revisão crítica e corrigida buscando sempre a melhoria.

O teólogo é, ao mesmo tempo, pastor e profeta, isto é, o que anima e o que discerne os sinais, por isso é chamado de doutor. Isto não é um título mas um serviço que segue a todos apóstolos e profetas.

Todo ser humano tem uma fé e cabe ao teólogo se aprofundar nela e ajudá-lo a repensá-la, senão será uma fé humana. Mas o teólogo não pode esquecer do contexto em que aa comunidade vive e nem da comunidade para não perder o sentido da função pastor-profeta-doutor.

Teólogo professor

O teólogo dedica a maior parte do seu tempo à docência teológica a qual envolve uma atitude séria de permanente leitura, reciclagem de conceitos e ampliação dos conhecimentos nas áreas teológicas.

Ele não pode deixar de lado os temas, principalmente, o que envolve a humanidade há tanto tempo: a questão dos oprimidos, opressores e do libertador. É isto que torna a teologia numa teologia sistemática, a saber, dogmática.

Através disto o teólogo realiza a pesquisa, divulga a teologia, produz textos e etc. Como na América Latina a situação econômica-social-cultural não ajuda, ele deve se ater ao conhecimento crítico do passado e aplicá-lo, visando o futuro, sem deixar de codificá-lo (função profética).

Na América Latina a teologia deve ser prática conforma a realidade hodierna da comunidade.

Teólogo assessor

Como assessor o teólogo se envolve num âmbito mais generalizado e de suma importância, pois envolve a articulação entre a reflexão e a pastoral. Apesar destes temas não serem doutrinários, são problemas reais na vida da igreja (comunidade).

A articulação está ligada a questões políticas e eclesiais, superando a compreensão ideológica, colocando os campos em referência e conexão, dentro de uma totalidade maior (global).

Teólogo explicitador
À medida que a igreja se acolhe e se insere na realidade local, há uma imensa vitalização. Neste ponto o teólogo revela os problemas e estimula reflexões.

Ao apresentar os problemas, o teólogo, precisa ter habilidade na condução da discussão, entrando as polarizações. Também mostra a relevância dos assuntos, a aptidão para sínteses enriquecedoras e o encaminhamento para a solução que deve ser feita pelos participantes.

Teólogo animador (reflexão)
A reflexão não deve ser apenas produto do teólogo, mas uma produção comunitária. O teólogo reflete em cima das práticas e do nível da consciência revelados pelo grupo, por isso o teólogo precisa utilizar a pedagogia e os recursos da dinâmica de grupos.

O teólogo alimenta a sua fé ao ter contato com a fé dos irmãos da comunidade. Ele é amigo da comunidade e confere legitimidade e sentido de valor às experiências de fé vividas e testemunhadas pelo povo.

O teólogo faz parte de encontros políticos ou de classe, gerando uma reflexão teológica baseada na história dos oprimidos. Seu discurso não é hegemônico mas reflexivo e aberto a todos.

O método teológico
O fazer teológico no Brasil deve buscar e utilizar o pensamento latino-americano, isto é, fazer uma contextualização e aplicação à realidade vivida aqui.

A sua doutrina não é enlatada, por isso precisa ser produto da reflexão da consciência religiosa da comunidade que assiste. A isto deve unir a reflexão bíblica, a doutrina e os documentos oficiais de sua igreja, para compreender a fé e gerar a prática pastoral. Isto gera a liturgia, o devocional e a celebração. A oração se volta para um bem comum que gera um bem-estar interno (shalom).

O teólogo realiza seu trabalho teológico através da ação transformadora articulando a espiritualidade com a política, pois o seu discurso incide sobre práticas sociais.

Os temas da teologia sempre surgem da prática popular, mas nunca deixando de aprofundar o alicerce espiritual que é a fé.

Teologia: Definição e Conceito




A teologia não foi criada por si mesma, no sentido que a revelação e a fé tenham-na criado ou construído. Foram utilizadas duas palavras gregas para indicar o seu objetivo ou tarefa: Qeoj (deus, um termo geralmente usado no mundo antigo para seres que têm poder ou conferem benefícios que estão além da capacidade humana) e logoj (palavra que revela) ou também qeologoi, que significa Palavra de Deus; não é o vocábulo, mas uma linguagem que encerra a idéia, isto é, ensino a respeito dos deuses ou das coisas relacionadas ao divino.

De acordo com o dicionário da igreja católica, pode-se defini-la da seguinte forma:

Teologia é a ciência que diz respeito a Deus conforme ele é revelado, e às suas relações com as criaturas. Pode ser dividida da seguinte maneira, entre outras: (1) dogmática: o que se exige que acreditemos; (2) moral: vida de acordo com as leis de Deus e da igreja; (3) pastoral: cuidado das almas pelo clero; (4) ascética: prática da virtude; (5) mística: graus elevados de vida espiritual; (6) natural: conhecimento de Deus e dos deveres do homem para com ele, conforme pode ser deduzido apenas pela razão, sem a ajuda da REVELAÇÃO.

O conceito de teologia aparece pela primeira vez no pensamento grego, através de Platão (379 a.C.). Entretanto, Platão entendia que a teologia era relacionada aos mitos, às lendas, aos deuses e suas histórias, que eram criticados filosoficamente, desmitificados e interpretados conforme as normas da educação política e purificados de toda inconveniência.

Então, segundo Platão, a teologia representa o caminho do mito ao logoj. Apesar de Anaximandro (filósofo que viveu entre 610-09 e 547-46 a.C. e escreveu uma obra Da Natureza, de que ficou um fragmento textual) e Heráclito (filósofo que viveu na Ásia Menor, Éfeso, era de estirpe real, solitário e desdenhoso (VI e V a.C.) e expôs o seu sistema numa obra filosófica intitulada Da Natureza) já terem delineado este sentido, concluem que com Platão havia chegado à perfeição.
A função do logoj consistia em descobrir a verdade que estava escondida pelos deuses, utilizando a forma da revelação, alhqeia (verdade, fidedignidade, confiabilidade, justiça).

Aristóteles chama os poetas Hesíodo e Homero de criadores de mitos, e os filósofos jônicos da natureza, de físicos. Através dessas e outras afirmações de Aristóteles surgiu a conhecida metafísica (parte da filosofia, que com ela muitas vezes se confunde, e que, em perspectivas e com finalidades diversas, apresenta as seguintes características gerais ou algumas delas: é um corpo de conhecimentos racionais (e não de conhecimentos revelados ou empíricos) em que se procura determinar as regras fundamentais do pensamento (aquelas de que devem decorrer o conjunto de princípios de qualquer outra ciência, e a certeza e evidência que neles reconhecemos), e que nos dá a chave do conhecimento do real, tal como este verdadeiramente é (em oposição à aparência) ), a qual também é um conceito de teologia. Entretanto, logo a seguir ele construiu a teologia ontológica, que tem como significado:

O deus (dos filósofos) torna-se fim e meta de uma filosofia primeira que tem por objetivo o ser enquanto ser o que é estudado nas suas relações e causas primeiras até provar que existe um ser absolutamente primeiro de quem dependem o céu e a Terra.

Com base nessas reflexões filosóficas cria-se um diálogo aberto com a religião, com o tema Deus e com a divindade filosoficamente possível. Esta linha de pensamento se aplica diretamente ao campo religioso e faz surgir um local para a teologia e para os teólogos utilizarem. A princípio os teólogos são os anunciadores de Deus e a teologia é o tema religioso dos deuses, isto é, a forma especial dos deuses falarem no culto.

Com o passar dos tempos o termo teologia sofreu muitas qualificações negativas, até que a fé cristã aceitou o termo teologia, de modo claro e definitivo, nos séculos IV e V.

Nessa viagem histórica alguns nomes são importantes em relação à definição e ao conceito da teologia. Entre estes pode-se citar: Agostinho, Abelardo, Henrique de Gand, Tomás de Aquino e outros.

Tomás de Aquino, foi quem distinguiu a teologia natural dos filósofos, na qual Deus pode ser conhecido como princípio e fim do conhecimento do mundo e de si, da teologia relativa à Santa Doutrina, na qual Deus é o sujeito de todos os enunciados. Isto ocorre porque a Santa Doutrina parte da automanifestação sobrenatural de Deus na sua revelação, atestada pela Bíblia (Sagrada Escritura). Na escolástica (doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média, dos séculos IX ao XVII, caracterizadas sobretudo pelo problema da relação entre a fé e a razão, problema que se resolve pela dependência do pensamento filosófico, representado pela filosofia greco-romana, da teologia cristã. Desenvolveram-se na escolástica inúmeros sistemas que se definem, do ponto de vista estritamente filosófico, pela posição adotada quanto ao problema dos universais, e dos quais se destacam os sistemas de Santo Anselmo, de São Tomás e de Guilherme de Ockham ) encontra-se várias vezes o termo sacra pagina ou sacra scriptura por causa disso.

No entanto, Tomás de Aquino mostra que há uma discussão entre a teologia e a filosofia e por serem diferentes não há vínculos entre elas. Ele mostra que toda discussão que existia e vinha caminhando desde a antigüidade, em relação à controvertida concepção da teologia (mítica, cultural, política e filosófica) está resolvida.

Tomás de Aquino conclui que a teologia mítico-cultual é uma entidade que pertence à história e é substituída pelo verdadeiro conhecimento de Deus, que é revelado através da sua plenitude em Jesus Cristo. Todavia não se pode eliminar a teologia filosófica, pois esta deve ser considerada como parceira, porém a pressupõe e a completa e também lhe dá o verdadeiro sentido.

Então, voltando à pergunta inicial: O que é a teologia? Qual o significa desta palavra? É lógico que para entender é preciso compreender o conceito de teologia. Ao ter uma clara e correta definição deste conceito, há uma melhor compreensão do que vem a ser o exercício teológico e teologizar.

Como já foi dito no início, através de um rápido exame etimológico, a palavra teologia vem do grego e significa discurso, ensino sobre Deus ou ciência das coisas divinas.

Conforme todo cristão aprende, a teologia necessita de uma revelação, afinal é a revelação de Deus aos homens. Então, Deus é o assunto da teologia; assim como Jesus Cristo, o Deus-homem; e também o Deus-espírito, o Espírito Santo. O bom disso tudo é saber que Deus é quem se revela ao homem e o ponto máximo da revelação de Deus é Jesus Cristo.

Só a Bíblia revela todo esse conteúdo relativo à pessoa de Deus. A Bíblia é a auto-revelação de Deus aos homens através dos escritos. Portanto o cristão crê num Deus revelatus.