quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Resumo dos capítulos III e IV do livro: Fundamentos da Ética Cristã



Michael Keeling; Editora ASTE


III – ÉTICA NA IGREJA


Ao longo da História da Igreja, os cristãos se depararam com situações difíceis e complexas devido ao contexto em que estavam; mas, sempre procuraram de alguma forma manter a fidelidade à Bíblia.
1. A Igreja Primitiva
Tudo corrobora para crer que os primeiros cristãos eram pessoas de condições sociais modesta, artesões, pequenos comerciantes, escravos, etc. Este quadro se manteve quase inalterado até 313, quando Constantino outorgou tolerância e proteção aos cristãos.
Tendo o imperador como “cristão” corroborou para que a sociedade fosse se transformando, a ponto de se tornar cristã.
Com o avanço do cristianismo aos gentios foi se descaracterizando do judaísmo, pois estes não conheciam seus costumes. Esse mesmo avanço entre a sociedade fez com que alguns se retirassem para os desertos e cavernas para fugirem das “tentações” que a sociedade impunha, e também para buscarem mais a Deus. Em sua fase posterior este êxodo ao deserto se deu por reação contra o “império cristão”.
2. Ética na Igreja Primitiva
Com o desenvolvimento do monasticismo, surgiu uma ótica ética de avaliar quem seguia o estilo de vida monástico era mais santo, do que, quem seguisse uma vida secular. O que não houve na igreja do Oriente, que via a teologia para todos.
Sexualidade
No séc. 3º e 4º no concílio de Elvira, determinou-se que os bispos , presbíteros e diáconos, deveriam se abster de relações sexuais com suas esposas.
Alguns grupos de filósofos diziam que a abstinência sexual favorecia a busca do saber. Vale lembrar que para a sociedade em geral a sexualidade era encarada naturalmente.
No império Romano de séc. 1º não se interessavam pelos homossexuais, o que só veio ser proibida no séc. 6º. O império defendia contra prostituição, estupro, e sedução de menores.
Tudo indica que já no séc. 1º e 3º se valorizava o casamento, como estrutura na sociedade.
Vários teólogos, mas, sobretudo Agostinho de Hipona, relacionava o sexo ao pecado. E o que mais o preocupava era o desejo carnal que o habitava.
O sexo tinha conotações simplesmente para procriação, nem passava pela “cabeça” ser fonte de prazer e liberdade.
Propriedade
Os monges ao se retirarem para o deserto eram também uma forma de desprezo pelos bens materiais. O clero também deveria se desapegar das posses (disso a igreja administrava!).
Clemente de Alexandria (150-215 d.C), que embutiu um meio termo ao dizer que o essencial não era possuir ou não possuir riquezas, mas sim a atitude espiritual em relação a elas... e também: Não há nada admirável ou desejável na pobreza, salvo se a razão dessa pobreza for a busca de uma vida mais verdadeira.... como pode haver partilha se ninguém possui nada?
Posteriormente, se tornou um problema a exploração de trabalho forçado nas lavouras o que impulsionou uma imigração para a cidade. Santo Ambrósio que levantou sua voz contra a desigualdade - disse: A natureza é generosa para todos, mas a ganância restringe os frutos da natureza a uma minoria.
Poder Político
O Nov o Testamento diz para obedecer a autoridade terrena (Rm 13.1-7; 1Pe2.13-17). Os cristãos primitivos evitavam ao todo conflitos com o poder, o que na prática era impossível. Os cristãos por não prestarem serviços públicos, (o que os livrava de comprometimento com a religião oficial do estado) eram mal vistos pela sociedade.
Tertuliano, em sua a Apologia, defendia os cristãos mostrando que o fato de não prestarem serviços ao estado, era compensado pela retidão moral que os cristãos possuem, o que no final das contas trazia mais benefícios ao estado.
Tudo mudou com a subida de Constantino ao poder, o estado adotou o cristianismo como religião oficial. Com o tempo se institucionalizou, e dogmatizou-se. Ficou claro o interesse do estado na igreja como mantenedora da ordem e da lei.
Com a entrada de Alarico o Godo em Roma, em 410 os alicerces do estado e da igreja ruíram, os pagãos acusavam o repudio a antiga religião como causa, e os cristãos aos pecados da igreja.
3. Uma teologia universal
Por volta do séc. 8º surge a aliança política-religiosa. Carlos Magno é coroado soberano do Santo Império, dando início à “cristandade”. Aos poucos nos séculos 10 e 11 o império foi perdendo o poder para os grandes proprietários. A sociedade então passou a se desenvolver através do feudalismo (utilização da terra senhorial pelo vassalo em troca de serviços deste).
Na alta idade média, a maioria da população pertencia à classe dos servos, que trabalhavam para os senhores da terra. A nobreza em troca do trabalho oferecia segurança à sociedade em casos de invasões, etc.
Com a mudança do império para o feudalismo, a igreja ficou em desvantagem, pois viu parte de seu poder ser transferido para as mãos dos senhores feudais. Mas a igreja continuava sendo uma grande força na sociedade. A igreja alegava ter o poder das duas espadas.
Tomás de Aquino surge na Idade Média, como uma dos maiores teólogos de todos os tempos. Seu método resumidamente foi tomar a filosofia de Aristóteles e reescreve-la num sentido cristão. Para Tomás de Aquino o instinto de preservação da própria vida e o de reprodução sexual é comum a todas as criaturas. Somente o de conhecer a Deus e de viver em sociedade organizada são peculiares ao ser racional.
4. Visão e disciplina em espiritualidade
A medida em que a teologia ia se tornando mais racional, foi também mais sentimental. Francisco de Assis, e os franciscanos foram expoentes desta forma de pensar. Um pouco mais tarde Thomas Kempis em Imitação de Cristo manteve esta característica.
Os monges por não gastar seu ganho em coisas vãs e tendo sabedoria para investir, acabaram muitos deles se tornando ricos. Foram os primeiros capitalistas.
Os franciscanos em 1209 organizados em ordem mendicante, pregavam a pobreza e o amor a Jesus, já os dominicanos, em 1216, como combatentes de heresias.. Juntos foram formadores de grandes universidades.
Foi no século 16 que a espiritualidade mística teve seu maior expositor João da Cruz, na Espanha.
5. A Reforma
A sociedade nos séculos 13 e 14 deixou de ser centrada na zona rural, e passou a ter como centro a cidade e o indivíduo. Os burgueses deram origem ao estado moderno como o entendemos hoje.
Para a igreja o centro deixou de ser os monastérios e passou a ser a grandes catedrais localizadas na cidade. Essas imensas torres de pedras expressam muito da arrogância do homem. As missas eram em latim, impossibilitando o povo de compreender. Assim, buscavam entender algo observando as catedrais, os afrescos, os vitrais, as estátuas, a dramatização da missa... (Muito pouco de revelação especial e muito de revelação natural). Do mais bastava obedecer à igreja!
A reforma no séc 16 foi apenas o começo das mudanças. Favorecidas em grande parte pelo contexto da época de um emergente espírito de confiança e investigação crítica. Para Lutero então muitas das obras exigidas pela igreja passaram a ser consideradas desnecessárias: confissão regular a um sacerdote, jejum, peregrinações, compra de indulgências, etc. Pois se é pelos nossos esforças que entramos no céu, por que Cristo morreu?
Como o que Lutero almejava que mudasse na Igreja, acarretaria em um comprometimento na manutenção do sistema, e uma ameaça às finanças da igreja, acabou sendo visto como um herege. Lutero foi apenas a centelha que ateou o fogo da reforma.
Ao tratar de ética social Lutero disse: Uma pessoa não vive somente para si... vive também para todas as outras pessoas; ou melhor, ela vive somente para as outras pessoas e não para si.
6. Ética e Reforma
A reforma influenciou três áreas fortemente na sociedade: a condição matrimonial, valores da economia urbana, e pluralismo democrático.
Sexualidade
Durante a idade média a igreja tomou o controle da instituição do casamento, e até o tornou um sacramento, por meio do qual se obtinha graça. Com a reforma protestante, restaurou-se a primazia do casamento na esfera das relações humanas, e admitiu o divórcio sob condições.
Propriedade
A consciência que prevalecia era de que lucro abusivo e juros eram imorais. Já no final da idade média com uma economia dinâmica, e precisamente em Genebra, que se iniciou a prática do lucro comercial e do juro, como recompensa a um serviço reconhecidamente legítimo.
Para Calvino, a vocação secular não deve ser considerada um meio de prosperidade pessoal, não constava nas cogitações de Calvino uma sociedade marcada pelo individualismo econômico vazio de altruísmo.
Poder político
Os reformadores Lutero e Calvino não pretendiam reformar a sociedade politicamente. Calvino enfatizava a obediência dos cristãos ao governo, mas quando este solicitasse a um cristão a agir em desacordo com as leis de Deus, deveria prevalecer a obediência às leis de Deus.
Os judeus sofreram perseguições pela igreja por razões ideológicas quer econômica, foram banidos da Inglaterra em 1029, da França em 1182 e 1306, e da Holanda em 1370. A França foi o primeiro pis europeu a conceder aos judeus igualdade de cidadania.
IV – O DESAFIO DO MUNDO MODERNO
Após o séc 16 o cristianismo teve de se defrontar com o surgimento das ciências naturais, e o racionalismo. Mesmo com os avanços dos séculos 19 e 20, em termos de progresso moral da sociedade pouco se notou.
1. A Coerência do mundo Natural
Propagou-se que se usasse somente argumento baseado em fatos ao discursar, e não imaginação metafísica.
Na idade média tinha-se a concepção de que Deus é o sustentáculo da criação e o responsável pelo seu funcionamento. A partir do séc 147 a ciência se denominou ser a única e exclusiva forma de conhecimento da verdade. Isto sem dúvida influenciou na forma de se fazer teologia.
O homem passou a ser então o centro.
2. Nossa Capacidade Cognitiva
Intelectualmente não é fácil diferenciar o verdadeiro do falso.
Descartes dizia que não se pode duvidar da própria existência, pois é ele mesmo quem duvida e de ser ele que pensa isso tudo. E conclui: Penso, logo sou.
Também constata, que qualquer percepção do mundo requer não somente experiência sensorial, mas também reflexão. Pode dizer ser verdade tudo aquilo que se pode constatar com clareza e nitidez.
O uso da razão para compreender a realidade continuou sendo a norma, ma tornou-se cada vez mais difícil demonstrar o elo entre essa realidade e a capacidade cognitiva da razão.
3. A Autonomia da Razão
Através de Hume e Kant nó século 8 a razão teve um papel importante para se conhecer a realidade. Kant rejeitava qualquer tipo de juízo baseado em noções místicas ou emocionais. Tudo deveria ser avaliado nas leis de causa e efeito, a não ser a esfera da moralidade, sendo possível o livre arbítrio.
Em os fundamentos da metafísica da moral, 1785, Kant esclarece que o bom é aceitar viver segundo certo senso universal de responsabilidade. Lutero dizia que: o cristão é um senhor absolutamente livre que não se sujeita a ninguém e, simultaneamente, é um servo absolutamente obediente e sujeito a todos.
4. O Individuo na Economia do Mercado
Através do século 16 e 17, o indivíduo como na idade média continuou sendo o centro na economia de trabalho. A reforma arrazoava eliminar toda vida contemplativa argumentando que a obediência a Deus dava-se no âmbito da atividade secular. O progresso econômico era visto como benção de Deus. Essa mentalidade forneceu a base financeira para o processo de industrialização e divisão de trabalho.
O que não se pode deter com o passar dos anos, foi a exploração dos funcionários com jornadas de trabalho prolongadas e salários irrisórios. O trabalho virou instrumento de opressão.
No século 19, com a ascensão da industrialização não foram os líderes cristãos, que se opuseram ao sistema, mas Karl Marx e Friedrich Engels. Marx colocou no centro da economia vigente, uma verdade direta ao trabalhador – você trabalha e produz, mas não recebe a totalidade do valor daquilo que você produz. Em 1948, Marx e Engels se manifestaram dizendo: a história da sociedade é uma história de lutas de classes.
O que os trabalhadores viam pela primeira vez, era que o mundo social era uma construção humana e que, por isso mesmo, podia ser transformado pela ação humana.
5. A Visão Cristã
Graças à consciência, o ser humano consegue coordenar os desejos segundo uma hierarquia de valores morais, e reconhece a impropriedade de fazer mal a alguém.
A elite bem sucedida do século 18, acostumado com textos em grego e latim, via o evangelho como uma relação de éticas de obrigações. Houve vários esforços de reforma social, primeiramente com os Quacres, e depois com os Metodistas. Infelizmente o cristianismo não foi capaz de analisar, avaliar e corrigir o estrago que a industrialização causou na sociedade.

Um comentário:

  1. Querido irmão, este texto é de minha autoria e foi extraído do portal www.creiaemjesus.com.br. Fique a vontade para divulgá-lo desde que informe a fonte e o autor.
    Danilo Moraes
    Mestre em Teologia pela FTBSP

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