quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Resenha do Livro: A Bíblia e seus intérpretes



Resenha do Livro: A Bíblia e seus intérpretes. Lopes. Augustus Nicodemos. – São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004. Páginas 159-273.


Os Reformadores


A Bíblia na Reforma. Os reformadores colocaram a Bíblia como ponto central, e rejeitaram o conceito de hierarquia da igreja como autoridade máxima. Os reformadores utilizaram se do método de interpretação que busca interpretar as Escrituras pela própria Escritura visando harmonizar as aparentes contradições.


Características da Interpretação dos Reformadores


De acordo com os reformadores o texto possuía um só sentido, o literal; a não ser que o próprio texto indique o contrário. Enfatizavam a natureza divina das Escrituras e sua inspiração. Ao interpretar as Escrituras os reformadores fizeram uso de obras de comentaristas medievais, e dos pais apostólicos, como dos contemporâneos.


Escolásticos e Puritanos


Entendendo a Hermenêutica da Pós Reforma. Com a reforma foi introduzido o conceito do livre exame das Escrituras, e com isso inevitavelmente surgiram controvérsias e disputas teológicas, gerando confissões e tratados teológicos. Com o avanço da Contra-Reforma os intérpretes da pós reforma produziram materiais doutrinários para fortalecer seus membros, como por exemplo o Catecismo Menor de Lutero.


Os Puritanos. Era um movimento que buscava purificar a Igreja, pois consideram que a reforma não havia sido completa. Foram eles que elaboraram uma das maiores confissões de fé, a Confissão de Fé de Westminster.


Características da Interpretação dos Puritanos. Apesar da diversidade entre os próprios puritanos quanto métodos hermenêuticos, no geral seguiam os métodos dos reformadores.


A Interpretação das Escrituras na Modernidade


Impacto do Iluminismo na Interpretação da Bíblia. O Iluminismo se característica pelo sua rejeição a qualquer interferência sobrenatural, negando com isso qualquer possibilidade de existência de milagres nos relatos bíblicos. Negou-se a ressurreição de Jesus, e a veracidade histórica de grande parte da Bíblia. A razão passou a ser a medida da verdade em questões teológicas. O conceito de “mito” passou a tomar o lugar de passagens bíblicas.


Principais Metodologias Críticas. A crítica das Fontes tem como principal objetivo identificar e isolar as supostas fontes, e estudar a teologia dessas fontes. A crítica da Forma se preocupa com a pré-história das fontes escritas, portanto se preocupa com o estágio oral pelo qual o texto passou antes de adquirir forma escrita. A Crítica da Redação centraliza sua atenção nos redatores que combinaram as fontes para formar o texto escrito em sua forma final.


A Chegada da Pós-modernidade na Interpretação Bíblica


Características da Pós-modernidade. Para o pensamento pós-moderno não existe verdade absoluta, toda verdade é relativa. A era da ração falhou, e a era pós-moderna abandou a busca por verdades absolutas e fixas. É impossível ser neutro uma pesquisa, isso foi uma mera ilusão da era moderna. Defendem o inclusivismo.


O Impacto na Interpretação Cristã das Escrituras. Na interpretação pós-moderna adotou-se uma abordagem sincrônica onde a preocupação esta em entender o texto á luz de si próprio e da interação deste com o leitor. Advoga-se também uma pluralidade de interpretações, cada nova leitura de um mesmo texto permite novas interpretações. Vertentes Formadoras dos Intérpretes Pós-modernos.


A Vertente Teológico-Psicológica: Schleiermacher. Schleiermacher adotava o método histórico-crítico e seus resultados. Sua principal obra hermenêutica foi (Hermenêutica geral, 1809-1810). Onde ele acredita que o intérprete pode entender o texto melhor que o próprio autor, e a interpretação de um texto se baseia na compreensão e tem uma dimensão gramatical e outra psicológica, ou seja, o interprete se esforça para entrar na mente do autor. O Cristianismo nas mãos de Schleiermacher tornou-se puramente subjetivo.


A Vertente Exegética: Bultmann. Como liberal rejeitava o conceito de inerrância e inspiração das Escrituras, e adotava especialmente a crítica da forma em suas exegeses. Segundo ele Deus fala somente através de um encontro existencial no texto, e não por verdades históricas. Postula uma cosmovisão onde o mundo é um sistema fechado, onde não pode haver qualquer intervenção sobrenatural. O Jesus que temos nos evangelhos foi feito pelos discípulos, pois os evangelhos vêm vestidos de lendas e mitos sobre Jesus.


A Vertente Teológica: Barth. Saudado como o maior teólogo do século 20, Barth propôs uma nova hermenêutica e uma nova teologia subjugando os efeitos do liberalismo e do método histórico-crítico. Porém seu esforço foi bem sucedido em parte. Fez uma distinção entre a “inspiração verbal” e “inspiração literal”, a primeira seria correta e a segunda deveria ser abandonada, pois trata-se de uma tentativa de dar uma garantia miraculosa para o testemunho das Escrituras.
A Vertente Filosófica: Gadamer e Derrida. Gadamer reage contra o conceito hermenêutico predominante do século 19, onde acreditava-se poder alcançar uma verdade objetiva. Para ele a verdade é sempre relativa e subjetiva. A hermeneutiva deveria deixar de ser metodologia e tornar-se epistemologia ou filosofia do entendimento. Derrida é reconhecido como o pai do desconstrucionismo e do pós-estruturalismo, também dava mais valor ao texto do que à fala.


Os Intérpretes da Bíblia na Pós-modernidade


Estruturalismo Bíblico. Baseado no estruturalismo secular o estruturalismo bíblico. Ele confunde bastante o leitor normal, e mesmo os estudiosos.


A Morte do Estruturalismo. O estruturalismo é acusado de negar a liberdade do individuo e a sua participação no entendimento. Também é acusado de negar a importância da História no processo de formação de idéias.


Crítica da Narrativa, ou Nova Crítica Literária. A crítica da narrativa é essencialmente sincrônica, se preocupa com os aspectos literários da narrativa, focaliza-se na forma como os autores bíblicos narram à história.


Hermenêutica Reader Response. Esta hermenêutica reader response (reação do leitor), enfatiza o envolvimento do leitor na produção e na determinação do sentido de um texto. As diversas variaçõe da reader response, via de regra lêem o texto ideologicamente ou politicamente. Os principais exemplos são a teologia da libertação, teologia feminista, e teologia negra.


Desconstrucionismo. O desconstrucionismo é uma prática de leitura que parte da suspeita e do princípio de que todo texto, se autodestrói, pois ele representa os interesses de dominação de determinados grupos. Propõe a pluralidade da verdade.


Desafios Atuais aos Intérpretes da Bíblia


A Utilização do Método Histórico-Crítico. No Brasil o método histórico-crítico tem se mostrado favorável em alguns seminários e meios acadêmicos, e constantemente nos deparamos em situações em que temos que escolher em aceitar este método ou rejeitá-lo. Vejo que o grande desafio é saber usar as ferramentas proporcionadas pelo método, desvinculando-as de seus pressupostos que muitas vezes são contrários a uma postura teológica conservadora.


Resposta às Hermenêuticas Pós-modernas. Em resposta às hermenêuticas pós-moderna, tem se buscado resgatar a importância do autor para determinar o sentido do texto, juntamente buscar a intenção do autor. Conforme a hermenêutica pós-moderna a distância histórica e cultural é impossível de transpor. Mas porque o homem e o mundo permanecem basicamente os mesmos em qualquer época ou cultura, que podemos transpor o abismo histórico, temporal e cultural.


Diferenças quanto à Hermenêutica Reformada. É evidente que muitas das ênfases da hermenêutica moderna nada tem a ver com a hermenêutica da reforma. As hermenêuticas modernas negam a inspiração da Bíblia e seu caráter proposicional da verdade, e a hermenêutica da reforma aceita. Da mesma forma a hermenêutica moderna apregoa a obscuridade dos textos bíblicos, e a reformada admite a possibilidade de conhecermos o sentido das Escrituras. A hermenêutica moderna apregoa que um texto pode ter múltiplos sentidos, e a reformada acredita que o texto tem um sentido verdadeiro e pleno.


A Lingüística e a Hermenêutica Bíblica: Diálogo e Desafios para o Intérprete do Século 21
A Abordagem Lingüística e suas Técnicas Hoje. O campo da lingüística geralmente é dividido em: Sincrônica (descritiva) ou Diacrônica (histórica), Teórica ou Aplicada, Microlinguística ou Macrolinguistica. O campo sincrônico e Macrolinguística têm prevalecido sobre os demais. Na hermenêutica bíblica alguns pesquisadores têm se utilizado áreas da macrolinguística.


Algumas Áreas de Estudo da Macrolinguística. A pragmática tem como uma de suas características, analisar os fatores pragmáticos que influenciam nossa seleção de sons, construções gramaticais e de vocabulário dentro do recurso da língua. Já a Lingüística Textual tem como um de seus objetivos a análise básica do texto, buscando estudá-lo no seu contexto pragmático (produção, recepção e interpretação) e ativando estratégias para a construção de sentidos. Na análise do Discurso se tem como um de seus objetivos entender que todo discurso é ideológico e para sua análise devem ser considerados os aspectos lingüísticos e socioideológicos.


As Perspectivas da Interpretação Bíblica: O Diálogo com a Lingüística. Tem que se ter cuidado ao dialogar com áreas da macrolinguística, e acabar usando indiscriminadamente terminologias sem conhecer os pressupostos. E também relativizar o conceito de significado extraído do texto. Por outro lado encontramos contribuição para analises bíblicas com o uso da macrolinguística, tais como, destruir a idéia de que alguns autores bíblicos são “inferiores” devido ao não uso da forma culta da língua, pois o que existe para a macrolinguística são variedades diferentes explicáveis.


Observações


Augustus Nicodemos Lopes, se posiciona como teólogo reformado e escreve a partir deste pressuposto. Ao tratar sobre o período dos reformadores ele destaca que este período foi marcado pelos princípios de interpretação de Antioquia. Após ele demonstra a hermenêutica dos Escolásticos e Puritanos, partindo então para a interpretação das Escrituras na modernidade, e em seguida a chegada da pós-modernidade na interpretação bíblica. Segue-se no capítulo 14 uma análise dos principais intérpretes pós-modernos com suas vertentes.


Ele da atenção especificamente aos interpretes da Bíblia na pós-modernidade, e a maneira como alguns intérpretes analisam os textos bíblicos. Augustus reconhece que existem aspectos positivos nas hermenêuticas pós-modernas, mas na grande maioria de suas conclusões nada se aproveita, seguindo a linha reformada do autor. No capítulo 16 que considero muito importante ele trata dos desafios atuais aos intérpretes da Bíblia. Considero importante devido estarmos vivenciando em muitos seminários teologias propagadas na atualidade que se alicerçam sobre as hermenêuticas modernas e pós-modernas, sem ao mesmo analisar e questionar seus pressupostos.


Concluindo sua obra ele insere um apêndice de Robério Basílio, buscando tratar sobre a lingüística e sua relevância para a hermenêutica bíblica. Neste apêndice Robério demonstra o déficit em que as obras de hermenêutica estão ap ignorar a lingüística como meio de análise dos textos bíblicos.


No geral a presente obra de Nicodemos é relevante para os dias atuais, especialmente para aqueles que crêem ser a Bíblia um livro inspirado e divino. Ela vem acrescentar ao meio evangélico na compreensão através da história da interpretação Bíblica.

Um comentário:

  1. Querido irmão, esta resenha é de minha autoria, e foi publicada no portal: www.creiaemjesus.com.br
    Fique livre para divulgar o conteúdo, mas não esqueça de informar a fonte e o autor.
    Danilo Moraes
    Mestre em Teologia pela FTBSP

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